sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Carta ao Aberta Reitor da UFFS

Realeza, 17 de dezembro de 2010
Ao Magnífico Reitor da Universidade Federal da Fronteira Sul
Dr. Dilvo Ilvo Ristoff
Com os nossos cordiais cumprimentos nos dirigimos à Vossa Excelência para manifestar nosso descontentamento acerca de vários aspectos, no que se refere à estrutura física, pedagógica e de apoio estudantil do campus Realeza, ao longo do ano letivo. Os problemas que enfrentamos durante todo o ano de 2010 são incontáveis.
No aspecto pedagógico, a UFFS funcionou boa parte do ano sem um estatuto próprio, sem Projeto Político Pedagógico e, tampouco, sem grade curricular definida em seus cursos de graduação. Neste sentido há um agravante, pois neste contexto não tínhamos o número de docentes necessários para compor um colegiado, estabelecer discussões institucionais e consequentemente termos uma grade curricular definida em tempo hábil.
Houveram desistências por falta de estrutura e os docentes que ficaram estiveram sobrecarregados durante todo ano letivo com as questões burocráticas de uma universidade que não estava pronta para funcionamento, e isso, infelizmente, refletiu no princípio básico de uma universidade que é o comprometimento com a formação acadêmica.
Ademais, os professores tiveram que se deslocar constantemente para Chapecó, resultando em alteração nos horários de aulas. Muitas vezes, acadêmicos e professores eram avisados um dia antes ou até no mesmo dia da reunião, plenária, posse, ou qualquer outra atividade. Consequentemente, ficamos muitas vezes sem aula ou com apenas um terço dos docentes no campus, estes tendo que literalmente “virar-se”. Além disso, alguns cursos vivenciaram, ao longo do ano letivo, certa insegurança quanto aos turnos, pois não havia
clareza nas informações.
Também houve oscilações e mudanças institucionais em relação às disciplinas do tronco comum, pois ele fora implementado e posteriormente alterado várias vezes sem considerar as especificidades inerentes de cada curso, tornando-o, pela percepção dos acadêmicos, algo denso e maçante.
Do ponto de vista científico e cultural, novamente fomos prejudicados. A biblioteca que temos infelizmente possui menos exemplares de livros que qualquer biblioteca de uma Escola Municipal. É notória a não existência de livros suficientes para suprir as necessidades dos acadêmicos de todos os cursos e os que estão à disposição só serão usados nos próximos dois ou três anos, pois abrangem outras áreas do conhecimento. Isso nos preocupa, já que aqui teremos nutricionistas, médicos veterinários e o mais importante, os professores, futuros egressos dos cursos de licenciatura oferecidos neste campus, profissionais que estarão diretamente ligados à formação educacional de pessoas que serão responsáveis pelo desenvolvimento humano.
Outro aspecto importantíssimo é a necessidade da criação de laboratórios de ensino, pois na falta deles a qualidade de nossas graduações fica prejudicada. Baseados na realidade de outras Universidades como a UNILA (que também foi criada recentemente), verificamos que eles não passam por estes problemas, pois possuem uma estrutura provisória que para a nossa realidade é algo inimaginável. Por isso nos questionamos: porque estamos assim, já que fomos o primeiro campus a ter disponível o espaço físico para construção do prédio definitivo, em relação aos demais campi da UFFS?
Um projeto audacioso como a UFFS deveria ter sido planejado com mais afinco por parte da alta administração, já que confiamos na qualificação do nosso corpo docente. Neste contexto, indagamos o porquê de um número menor de bolsas direcionado para o campus Realeza nos últimos editais de pesquisa. Temos menos professores, mas afinal, não é a reitoria que lança editais para abrir concursos de contratação de novos docentes? Sendo assim, estamos presos a um círculo vicioso no qual somos esquecidos tanto em relação à estrutura física quanto ao corpo docente quando nos comparamos com os demais campi, pois possuem ao menos um campus provisório decente que lhes permite no mínimo um espaço para que as
atividades estudantis sejam desenvolvidas.
Salientamos que o “pseudo campus” provisório de Realeza não comporta adaptações para o prosseguimento das atividades, já que é totalmente inadequado. As salas de aula não possuem ventilação, tampouco quadros amplos, as paredes não possuem acústica, fato este que interfere negativamente nas aulas, pois ouvimos as aulas ao lado. Faltam murais para afixar documentos, portarias, recados, entre outros. Além disso, o quesito mais importante, segurança, é ignorado: não há saídas de emergência no prédio, nem extintores nas salas e nos laboratórios de informática – que se quer possuem janelas.
Como é do conhecimento de todos, estamos provisoriamente no Centro de Eventos do Município. A cada ano a Prefeitura Municipal realiza a ExpoReal, que em 2010 aconteceu em pleno mês de novembro, perturbando o ambiente universitário com barulho excessivo anteriormente e posteriormente ao evento, inclusive com o cancelamento de atividades letivas.
Neste sentido, exigimos explicações sobre o processo de aquisição da CESREAL. Ouvimos rumores sobre isso, e, nós acadêmicos estávamos certos de que no próximo ano teríamos uma infra-estrutura independente da administração municipal. Devido a isso, permanecemos durante todo o ano letivo esperando melhorias, caso contrário, haveria uma evasão enorme dos acadêmicos que poderiam ter optado por outras instituições e que tiveram a paciência e humildade de aguardar por essa falácia. Por isso questionamos: esta situação a
qual estamos inseridos foi proposital? É apenas um problema de má gestão? Ou ambos?
Causa estranheza a condução das negociações. Quem fez a avaliação das condições desta estrutura para o funcionamento do campus em 2011 e garantiu que ele atenderá as necessidades pedagógicas? O reitor? Seus pró-reitores? Todos eles estiveram apenas uma vez no campus depois do início das atividades letivas. Ou existiram interferências externas na definição dessas questões?
Se esta instituição é Federal e compete aos órgãos dessa instância deliberar verbas para construção da Universidade Federal da Fronteira Sul, porque não adquirir um ambiente apropriado para suprir as demandas básicas e que, além disso, permitiria o desenvolvimento de atividades inerentes à UFFS, como Ensino, Pesquisa e Extensão, lazer, cultura, entre outros.
Nos preocupamos, pois, se o ano de 2010 foi um caos, o que acontecerá em 2011 já que passaremos a contar com cerca de 540 acadêmicos mais o corpo docente e servidores técnicos administrativos? O que nos “empurraram” foi uma nova medida provisória de instalações precárias com os mesmos problemas supracitados.
Além disso, os aluguéis nesta cidade estão caríssimos e cada vez aumentando mais. Sabemos que as licitações para construção de restaurante universitário e moradia estudantil foram lançadas, entretanto, algo para nós soa como instigante: se a alta administração da UFFS ressalta a cada discurso em eventos que “A Nossa Federal” é uma Universidade de caráter popular, ela também deve estar ciente de que deverá ter como prioridade ações que garantam a efetivação desse pleito com qualidade. Por isso, dentre as demais necessidades citadas, exigimos que laboratórios, salas de aula equipadas, biblioteca com os melhores
exemplares de livros (e em quantidade no mínimo suficiente para atender às demandas de pesquisa, haja visto que nem os livros das referências básicas e complementares dos planos de ensino se encontram disponíveis), restaurante universitário e moradia estudantil sejam criados para o início de 2011.
Por isso, no próximo ano letivo esperamos ter um campus cuja denominação possa ser chamada “provisória” sem qualquer constrangimento, afinal, este “galpão” no qual fomos “fincados” (parafraseando a Revista Veja), não é o que se pode chamar de Universidade Federal. A Comunidade Acadêmica desse campus não irá mais passar por situações constrangedoras quando houver seminários, simpósios, semanas acadêmicas ou até mesmo visitas ilustres, como em sua única visita ao campus em 2010, e nesta ocasião proferiu a aula magna na qual ganhou a chave da cidade. Entretanto, parece que essa chave se perdeu entre
tantos outros eventos pelo país, e porque não dizer, por outros países. É relevante ressaltar nosso anseio de que quando o Sr. Zeferino Perin – presidente da Fundação Araucária - voltar a proferir uma palestra em nossas “instalações”, aves não voem sobre nossas cabeças excretando fezes, e sim, que estejamos em um ambiente realmente Universitário.
Diante de toda essa conjuntura, não resta outro caminho a não ser propor a suspensão das atividades letivas até que estes problemas sejam resolvidos. Agradecemos antecipadamente a atenção e aguardamos retorno de cunho emergencial. Sem mais para o momento.
Atenciosamente,
Daniel Vargas e Jéssica Pauletti

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