sexta-feira, 15 de outubro de 2010

15 de outubro - dia do professor

Muito mais que homenagem o professor precisa de estrutura para realizar  sua função.

Em entrevista a revista Folha   Dirigida LEonardo Boff  faz uma analise de conjuntura da sociedade e a importancia do Professor.



Folha Dirigida — O que é fundamental existir na escola para que, ao sair dela, o aluno leve consigo seu certificado de cidadania. De qual instrumento a escola deve dispor para formar cidadãos conscientes de seus valores sociais, morais, culturais, éticos e étnicos?
Boff — A melhor formação para a cidadania é aquela em que o estudante seja confrontado com as realidades nuas e cruas à sua volta. A realidade complexa e, não raro contraditória, obriga a pensar. O estudante interage com ela, aprende a identificar as causas dos problemas sociais, identifica valores vividos pela população e, no diálogo, busca alterntivas viáveis. Esse processo de ligação escola-comunidade significa uma verdadeira escola de democracia participativa. Ele forja os cidadãos adequados a essa forma de relacionamento, considerado como o melhor excogitado pela filosofia política.
Folha Dirigida — O senhor acredita que uma educação de qualidade depende, fundamentalmente, de investimentos e do nível salarial dos professores?
Boff — Uma educação de qualidade não vive apenas de generosidade e criatividade de seus operadores. Ela precisa de uma infra-estrutura adequada que desonera os educadores de demasiadas preocupações com a sobrevivência e lhes forneça os instrumentos para realizar a obra educativa. Educar, já se disse, não é encher uma vasilha vazia, mas acender uma luz nas mentes dos educandos. Honrar essa missão implica que se mantenha um nível digno de salários e que haja investimentos fortes nos processos educativos. Sem a educação nenhum povo deu o salto de qualidade rumo a sua autonomia e ao pleno desenvolvimento.
Folha Dirigida — Como vê o papel da universidade na sociedade?
Boff — A inteligência brasileira tem uma dívida enorme com o povo. Poucos temos, e é um direito termos, o afortunado privilégio de chegar a estudos mais avançados. As universidades são as chocadeiras de um sistema que se reproduz a si mesmo, criando seus quadros. Poucas universidades criaram a cidadania acadêmica, política, fizeram a aliança entre a inteligência e a miséria. Acho que este é o desafio, promover o casamento dos excluídos, humilhados e ofendidos de nossa história com a inteligência; articular o saber popular, feito de experiência e luta, com o saber acadêmico, feito de crítica e ciência. Dois saberes diferentes, mas úteis para construir um país mais rico.
Todos na universidade devem ser um pouco anticultura, antiuniversidade, contra a universidade que atende aos interesses de um sistema de profundas desigualdades. Temos que resgatar aquela memória ancestral, medieval, das universidade que era um lugar onde todos os saberes tinham lugar, porque o saber tem que passar por um filtro crítico, tem que se confrontar com outro, para ser plenamente humano e construtivo, e não ideológico, obedecendo ao interesse de pessoas que têm mais força.
Isso é o apanágio de toda a tradição ocidental de universidade, que foi reafirmada pela grande reforma das universidades alemãs em 1908, 1909, e que quando Napoleão (Bonaparte) assumiu, se espalhou por todas as universidades do mundo. A universidade contemporânea nasce da crítica das ideologias e da crítica de como a sociedade se constrói. A grande contribuição que a tradição marxista trouxe foi discutir o caráter ideológico de todos os saberes, porque ideologia não é o saber, mas a forma como se usa o saber. Podemos fazer uso desse saber para legitimar privilégios, para consolidar interesses, ou pode ser um saber crítico, que coloca no centro a sociedade. O desafio é fazer o estudante sair da universidade com a cidadania enriquecida, a crítica mais atenta e organicamente vinculados àqueles que nunca tiveram o privilégio de freqüentar uma escola, de sequer entrar no espaço de uma universidade. Que ela seja uma arma para inventar um outro Brasil, mas não queremos inventar a partir da universidade, mas com a universidade junto, organicamente ligada àqueles que estão lutando por seus direitos. As grandes nações européias, o próprio Estados Unidos, a Coréia arrasada pela guerra, um país mais atrasado do que nós, o Japão liquidado pelas bombas, se tornaram grandes países porque souberam unir todos os saberes para formar um povo que tinha um sonho de uma outra nação.

 fonte: http://www.folhadirigida.com.br/professor/Cad03/EntLeonardoBoff.html

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